Quando era pequena passei a maior parte das férias de verão na quinta dos meus avós maternos. Diziam que quando as (longas) férias terminavam eu ficava com “boas cores” dos ares da aldeia e as minhas bochechas rosadas não indicavam o contrário. A comida tinha outro gosto, é certo. E entre a boa alimentação e os dias despreocupados e de brincadeira, ali era feliz.
A minha avó tinha um fogão a lenha que acendia logo de manhã. Eu descia e ela tinha leite com café e torradas com manteiga à minha espera, mas não havia torradeira, as torradas eram feitas numa chapa no fogão. As restantes refeições eram feitas no fogão a lenha (mesmo havendo um fogão a gás) e não consigo descrever o gosto maravilhoso com que ficavam. As sopas, o simples arroz de forno ou as carnes assadas, quem me dera poder agora voltar a sentir esses aromas. A minha avó tinha mão para a cozinha e, sei-o agora, a escolha dos alimentos fazia toda a diferença. Eram produzidos de forma mais tradicional, vindos dos mercados e talhos onde os meus avós os iam buscar e também produzidos na quinta: tudo vinha quase da terra para o prato e isso influenciava certamente.
Já fora da mesa, a melhor memória que tenho do fim da refeição (ou das tardes), era a de estarmos em roda do meu avó a comer melão. O meu avó Rui escolhia melões como ninguém. Grandes e doces, ele ia cortando talhadas e distribuindo. Nós comíamos, sentados nas escadas das traseiras da casa, pouco importados por ficarmos todos lambuzados com o sumo. Será por isto que ainda hoje é a minha fruta preferida?
A minha avó Zé fazia uma sopa muito simples de base branca e couve que nunca mais esqueci. Já a fiz várias vezes, e apesar de não conseguir reproduzir exatamente o sabor que ela lhe dava, esta sopa lembra-me sempre dela. Um regresso àquele lugar da minha infância fez-me ir para a cozinha em busca da reconfortante sopa da avó, que aqui tento reproduzir com saudade e em sua homenagem.
- 1 couve galega (couve portuguesa)
- 2 batatas médias
- 1 cebola pequena
- 2 dentes de alho
- 1 alho francês (só a parte branca)
- 1 lata de feijão branco
- sal q.b.
- azeite
- Descasque as batatas e a cebola, corte em pedaços e deite numa panela com água (a quantidade de água pode variar consoante a consistência desejada: cá em casa gostamos da sopa um pouco mais líquida);
- Limpe bem o alho francês, corte-o em pedaços e junte à panela;
- Adicionar os alhos descascados e cerca de 100 g do feijão branco (escorrido e lavado);
- Tempere de sal a gosto;
- Deixe cozinhar, em lume brando, até que os legumes estejam bem cozidos (cerca de 20 minutos);
- Entretanto arranje a couve, lavando-a e cortando-a em pedaços (gosto de cortar à mão);
- Passe a sopa com a varinha mágica até ficar um creme aveludado;
- Junte a couve e deixe cozinhar até estar tenra (de 15 a 20 minutos);
- Um pouco antes de terminar o tempo de cozedura da couve, junte o resto do feijão branco;
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